Estradas Reais. 77, 78, 79, 80, 81,
Livro Revista.
Quinda um Amigo de Fé
PEIXE SAGRADO
Quinada come cobra como era conhecido esse meu amigo na cidade era ligeiro, como o Diabo, mais esperto doque Malazarte e Cancão de Fogo juntos, vivia com seus 8 irmãos, sua mãe trabalhava com as irmãs mais velhas enrolando charutos para Jaquera seu tio, que pagava dez contos por milheiro de charutos enrolado. Quinda ouviu falar lá pra banda da cidade, que estava para pocar, estoura uma Grande Guerra Mundial, ele se agoniou, ele nem sabia direito o que era uma ''Guerra Mundial'', no alto dos seus doze anos de idade, ele ficou apavorado, Bomba Atômica! gaguejou geral, atômica. Ele não conseguia pensar em outra coisa, o mundo que ele tanto ama vai se acabar. Quinda Come Cobra era o cão chupando manga, conseguia tudo. Quinda era menino corajoso, não tinha medo de nada, resolvido, treitero, comprava tora de fuma de rolo pra poder fumar, aprendeu beber cedo com seu próprio pai que tocava jegue, carregado de arreia, mais só chegava bebado em casa, só sabia sorri, sorria de tudo, nunca mais tive noticias dele para ver se conseguiu ser alguma coisa na vida. Os meninos ricos trazia uma maçã pra nóis poder comer. Tenho muita vontade de voltar a ver-lo para ver como ele está, se esta bem, se está ainda forte, se está vivo, se conseguiu alguma riqueza. Ele ia todos os dias na minha casa me chamar para ver se via-mos os Negros d'agua, dizia os mais velhos que la no Rio em cima numa pedras ele eram vistos chupando maga, comendo goiaba. Me falava que ouvia sua mãe dizer, eu ouvia a minha também dizer que esse mundo não chegaria ha 2000? agente fazia uma contas e dizia que azar. Em 2000 ainda estaremos vivos? Sua mãe assim como a minha eram especiais profetas, sabiam de tudo e mais um pouco, ainda que a mãe dele era negra mais sabia a leitura, acho que era filha de escravos da Lei do Ventre Livre, ou mesmo do ventre livre. Era ''filha ou neta do Ventre Livre'' os Senhores donos dos seus pais, eram caridosos e a adotaram e lhe deram boas Escola, o saber. O fato é que ela sabia ler e escrever. Lia folhetos de cordel para nós. Contava história do tempo do Cativeiro, nós amava a dona Josefa do Charutos. Aperta meu coração só de lembrar.
PG.77.
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Estradas Reais.
Livro Revista.
Era uma pessoa fina perdida ali nos anos 50 como todos nós sendo tratada com desprezo pelas elites plantadores de Cacau e por todos que se achavam ricos sem ter nada igualzinho hoje. O nosso Rio tinha um poço muito , muito fundo, agente queria de qualquer forma ver tudo, que tivesse no Rio, nas matas, nas matas: Diziam que tinha o Caipora, que se agente não levasse cachimbo e fumo nunca mais voltaríamos pra casa, então quando agente ia casar passarinhos nóis levava fumo para ela a Caipora. A pobreza do meu amigo era muito grande maior do que a minha. Quinda era para mim uma especie de Anjo da guarda, ele estava sempre em vários lugares ao mesmo tempo, onde eu estivesse. Eu dizia pra ele: antes de eu ir embora , eu quero lhe ver, me despedir de você intendeu? No dia da minha viajem ele não dormiu e nem eu. Na hora da partida vi ele andando em volta do caminhão varias vezes, vi ele chorando, eu fui embora e meu amigo ficou naquela solidão de quando perdemos um grande amigo. Vim e nunca mais tive noticias dele. Tenho citado o nome dele em varias histórias, crônicas e poesias minhas. estou disposto a procura esse menino, quando na Bahia for, se for. uma questão de delicadeza para com aquele menino que amou a vida, foi meu companheiro na infância. Antes de eu morrer é justo eu voltar a ver-lo, já citei o seu nome em vários livros meu, em todos. Arrumamos dois meninos filhos de rico que ficaram nossos amigos. Graças a Deus os meninos ricos não esqueciam da gente, só não saiam, e nem ninguém podia ver eles com a gente. os pais dele eram homens ricos e políticos da cidade. Eles davam caramelos pra nóis, deixava nós andar nas suas bicicletas. Amávamos eles. Coisas da infância que se perdem para sempre eles comiam umas comidas gostosas, tinham empregadas em casa, que eles comiam macarrão, chegaram um dia dizendo que o mundo ia se acabar dia 9 de janeiro nóis falamos pra ele que não, que nossa mãe falou que o mundo ia se acabar em 2000, ele acreditou, e foram embora felizes, comemos tudo que eles trouxe e fomos brincar, no Rio, nadar, pular, pegar Caravela fazer Guerra de Caravelas.
PG.78.
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Estradas Reais.
Livro Revista.
Sobre o meu amigo. eu queria saber aonde ele andou, nesses anos todos aonde anda hoje? Ele morria por mim e eu morria por ele, éramos assim unha e carne, o que ele fez da sua vida, como foi ruim o resto da sua infância sem mim? se ele casou, se teve filhos? O Quinda tinha um irmão mais velho que eu soube que veio pra São Paulo, também soube que morreu aqui em São Paulo. Eu tenho esperança de encontra meu amigo, mesmo que eu tenha que ir na Bahia só pra isso. Qual o ano que ele perdeu sua mãe? mulher guerreira, negra de sangue no olho, criou seus 10 ou 11 filhos todos unido, uma irmã dele veio pra São Paulo na mesma viajem que eu vim, mais cada um foi pra o seu lado e eu nunca mais a vi. A família dos Vila Nova seguiram direto para o Mato Grosso, tinha adquirido terras lá, nunca mais eu soube deles. Tinha um dos Vila Nova que era meu amigo, o Edgar Vila Nova.
PG.79.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Estradas Reais.
Livro Revista. 136.
''PEIXE SAGRADO''
Fico pensando num mundo ideal
Com pessoas sorrindo felizes
Num mundo livre das guerras
Das pregas dos agrotóxicos
Num mundo repleto de vidas
De cores de flores de pássaros
Insetos anfibios e répteis
Num mundo de paz.
Pessoas sem presa se abraçando
Falando todos a mesma lingua
Não houvesse dinheiro
Nem rico nem pobres
Não tivesse ambição e nem poder
O ouro e a prata não tivesse valos
Que todos cuidassem de tudo
Os alimentos fossem folhas flores e frutas
O peixe Sagrado os Índios Há...
Os Índios fossem seres querido
E amados por nós.
Os Mares e Rios não tivessem poluição
Cada Pessoa cuidassem de si
Do mundo e dos filhos e de todos
Que a morte fosse uma dadiva
O amor há o amor fosse um grande bem.
Penso nessas coisas.
Fim. E.Gois.
PG.80.
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Estradas Reais.
Livro Revista.
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