Estradas Reais. 85, 86, 87, 88, 89, 90
Livro Revista.
Um Estanciano.
Nasci na Cidade de Estância-SE família pobre, sempre soube da minha insignificância: mais um ser pobre sem origem, sem dinheiro. será um ótimo operário pra construção, com certeza pensavam meus tios, tias e madrinha etc. Sim fui um grande operário, tive pouco de acesso a educação Publica. Nunca descuidei de ser um grande Operário sim. Trabalhei assim por dez anos como ajudante geral, ou ajudante de alguma coisa, de qualquer coisa dentro da industria Paulista. Mais um dia de marmita fraca, café da manhã fraco e cachaça que ninguém é de ferro. kkk A minha cabeçona não parava de buscar melhora dentro da firma, para mim e para minha mãe e meus irmãos. Já com dez anos em São Paulo as coisas não mudavam, tudo mudava, o regime mudava, mudava o regime de governo, mais para nós operários do Brasil as coisas não mudavam, quando mudava era pra pior. Foi ai que se levantou um gigante de dentro de dentro de mim, de dentro do meu cérebro, do meu coração, ai comecei a romper as amarras, esqueci de onde vim e foquei onde eu queria ir. Voltei para Escola, terminei o primeiro Grau, fiz o colegial, hoje o ensino médio abrindo as portas do Universidade, comecei frequentar outros lugares, lugares diferentes, reuniões políticas, parei de beber. Nunca me passou pela cabeça me converter em nada, a nada. sempre me achei um ser humano perfeito, pobre mais de coração generoso. Ai fui, estou indo. Adorava A Arte fui ser Artista, adorava os Escritores: Guimarães Rosa, Manoel Bandeira Ariano Suassuna, Graciliano Ramos fui ser Escritor. Adorava os Poetas: Castro Alves, Casimiro de Abreu, Vicente de Carvalho, Manoel de Barro, fui ser Poeta. Mais da minha alma não saiu aquele menino pobre brincalhão, que brincava com tudo que se mexia, que achava que as pedras tinham vida por maiores que fossem, afirmava: tem vida, ainda acha, que um dia se levantarão e andarão todas. Ele se emociona diante desses Gigantes de granizos: Pedra Azul-MG, Pedra da Gávea- Rio de Janeiro, O Dedo de Deus Rio de Janeiro, O Frade e a Freira Espirito Santo. Eu sou um amante das pedras, elas enfeitam os meus mundos, se eu estiver um dia perdido e encontrar uma grande pedra , não estarei mais perdido. Se eu estiver num grande deserto de de repente encontra uma grande pedra não estarei mais num deserto, elas me encantam. Santa Pedra Azul da minha paz.
PG.85.
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Livro Revista.
Na minha paz ali trabalhando na solidão do meu dia de trabalho só me restava pensar, pensava em tudo, nos meus heróis que passaram, nos amigos de infância que tanto me deram de si, que confiaram em mim, que sorriram pra mim, sim um sorriso de um amigo é a coisa mais linda, de uma amiga ainda mais, por que contem muita ternura e por que é um sorriso mulher, com toda a graça da alma da mulher. Força de expressão a parte, mais isso é verdadeiro. O sorriso de um adulto, de uma pessoa já idosa pra nós quando somos crianças é uma delicia em fim o sorriso foi um presente que Deus mandou nos dar ou ele mesmo nos deu e sorriu. Tirava a mascara de soldar as vezes sorrindo ainda para ir tomar um pouco de ar, ou fumar um cigarro, coisinha curta menos de cinco minutos e voltava para debaixo da mascara, para continuar o trabalho, as horas passavam lentamente enquanto minha filha crescia linda em casa, quando eu chegava lá estava ela que sorria, que sorria... Na ida na Bahia não via a hora de chegar, de passar em Pedra Azul que virou cidade tão bela é, a sua presença ali tem que ser um lugar de peregrinação, quando passo por lá fico encantado, abismado com sua grandiosidade, ela é inacreditável, na viagem de carro, os carros parecem circundar em volta dela, os construtores da estrada parecem não quererem se afastar do local. Gostaria de ser enterrado ao lado com uma cruz de madeira solida, quantas histórias de bravura tem por lá, Um povo calmo ali sempre fumando um longo cigarro de palha, contam histórias tempos Guimarãesrosianos quantas longas histórias? pessoas sempre com uma ou duas pedras preciosas ou semipreciosas lhe oferecendo. Andei muito em estradas Reais. Era encantador conversar com aquelas pessoa simples que ainda tem muitas por Ali naquele Gerais, as estradas não se acabaram, só melhoraram. Estrada Rio São Paulo, Rio Santos, Estrada do Imperador, algumas eram calcados, de pedras brutas, a maioria feitas pelos Escravos, conheço muito essas estradas já viajei muito por elas, eram como veias, tinha sempre um coração que era o ponto de chegada, que era um comercio onde as pessoas se abastecia com comidas, roupas, sapatos, onde eles compravam fumo de rolo, onde tinha uma Igreja para os Cristãos se confessar, era o ponto de chegada.
PG 86.
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Livro Revista.
Era chamado de entreposto, ali as tropas de burros deixavam as cargas para ir buscar outra.Voltava carregados as vezes. Os tropeiros eram os grandes protagonistas. Lembrando de um que conheci quando criança e ouvia as histórias dele, Antonio Balizeiro trapeiro com grande experiência, os seus animais tinha respeito por ele, ele tinha respeito pelos seu animais. Transportava carne, toicinho de porco, milho e feijão do Sertão pra Coaraci. Ele vinha de Bitupã e ponto Chique Meio Sertão da Bahia, sua estrada Real era a estrada que cortava o ouro passando pelo Terto, hoje Itamotinga. tempos de grandes aventuras desses meus heróis. que meu Deus os tenha com ele. Homem do coração de Cristal. Se arranchavam numa fazenda velha em frente a nossa casa. Esse homem era muito educado contava que tinha sido balizeIro, trabalhado com com os Agrimensores medindo grandes extensões de terras, grandes fazendas, caminhando em picadas feitas a facão e foices nas matas do Sertão, da Bahia, nas matas Atlânticas, nas décadas de trinta e quarenta. Dizia que muitas vezes se livrara de ser comido por onças e outos bichos selvagens. Da minha vez eu ficava encantado com os causos de Seu Antonio balizeIro, herói para mim. Salve Sr. Antonio balizeiro minha homenagem a sua valentia. Seu Antonio balizeIro contava uma histórias de Homens que cavava dinheiro, sim cavava Botija de dinheiro, dinheiro... as vezes de ouro, dobrões de ouro e de prata, Joias antigas do tempo do Império. Histórias de barões e Marques que por falta de Bancos, guardavam o dinheiro embaixo do coxão, ou dentro, quando sentia que a morte estava perto rondando sua casa, era tradição enterrar o dinheiro e eles escolhiam um lugar bem apropriado perto de uma grande Gameleira ou perto de um seleiro e sem ninguém saber enterrava o pote ou baú, digo o tesouro. Seu Antonio contava na beira do fogo de chão, fazendo a comida de Tropeiro eu lembrava soldando o chassis dos tratores da Fiat. Tinha muitas histórias de assombração, balizeiro era um Homem muito rico em causos de arrepiar. Lembro dele com muito carinho. Homem admirável. Balizeiro foi mais um dos meus heróis, cheio de aventuras de arrepiar.
PG.87.
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Livro Revista.
Me envergonho em me aprofundar na História, na nossa história e saber que homens como o nosso Rui Barbosa queimou montanhas de documentos de recibos de transferencias de Escravos, que Barões, Senhores de Engenhos mandavam soltar os Negrinhos e Negrinhas filos de Ventre Livre nas Estradas Reais, para morrerem abandonados, que esses negrinhos e negrinha se escondiam em moitas para não seres vistos por viajantes. Esses fatos não não e matéria de prova nas Universidades, Custo de acreditar. Custo... Que povo extraordinário o povo Negro, que grandeza. Um povo que nas senzalas nos presenteavam com seus cantos de dor 'Óia Oia Oia... No meu trabalho eu pensava nos meus filhos, sentia eles crescendo, me dando força para trabalhar mais e mais, eu sorria e até chorava as vezes. Nunca fui uma pessoa religiosa, não consegui ser, a minha religião era o trabalho, a grande produção. quem ia construir o progresso eu pensava? quem ia ligar a luz, para iluminar as igrejas? Eu era delegado do Sindicato, dentro da fabrica função voluntaria. alguns Gerentes, Diretor de empresas se não tiver um delegado de Sindicato ele nos tira tudo, o que é premio, gratificação, horas Extras etc. Como Delegado eu tenho que agir. com coerência, racionalidade, se não as coisas complicam mais ainda. O trabalhador dentro da empresa não tem valor algum, então não teve jeito, conversa vai conversa vem acabamos indo pra greve. Montamos uma pauta de negociação e fomo pra mesa de negociação. Em fim tenho o maior orgulho de ter fechado com chave de ouro o meu ciclo dentro de fabrica.
PG.88.
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Estradas Reais.
Livro Revista.
''As Pedras Cantaram para Mim''as'''
Fui na Bahia para ver
As pedras do Rio
E elas estavam lá puras e
Milenar.
Fiquei minuto horas calado
Imóvel com a mente parada
Regredi: Me vi nu saltando
Das pedras dentro do Rio
Dentro das aguas ti bum...
PG.89.
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Estradas Reais.
Livro Revista.
Regredido no tempo desci
Um pouquinho e as Pedras
Estavam lá e parecem que
Sorriram para mim e eu chorei
As aguas passavam e dizia um
Olá Ia embira para o Mar.
Ainda encantado encostei o meu
Rosto em todas pra receber o carinho
E ouvi-las cantar...
Fechei os olhos e vi as mulheres
As lavadeiras de ganho as
Lavadeiras do Almada.
Os quaradores forrados de roupas
De toda cores tamahos e sexo.
Dona Donata, seu paninho na
Na cabeça e Elza lavavam lá
E ainda cuidava de mim que
Que brincava ali.
Eu brincava com os bichinhos
Do Rio os peixinhos
Retornei da regressão deitei
No colo da pedra Rainha
Para ouvi seu Coração
Chorando me despedi dei um
Adeus fui embora já com saudade
Olhei pra traz parece que as pedras
Conversavam sobre mim.
Sobre mim.
E.Gois.
PG.90.
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