sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Pioneiro

Cheguei em São Paulo, numa época que chegavam milhares de migrante de todo o Brasil. Eu cheguei aqui sem nada, sem dinheiro, sem documentos, sem tamanho para enfrentar trabalho pesado,um prato cheio pra servir de gozação, pra os amigos dos meus tios, que nem me apresentavam pra os vizinhos, os vizinhos perguntavam :quem é esse menino? eles  respondiam é meu sobrinho, veio da Bahia, a mãe e os irmãos esta passando fome lá na Bahia e ria,kkk  mandamos ele vim pra trabalhar aqui, mais olhe o tamanho? e ria kkk. e eu ali morrendo de vergonha. Eles caprichavam. A coisa boa foi que meu tio tinha muita pressa para arranjar serviço pra mim, e arranjou para eu trabalhar numa sapataria  de calçados  infantil, e ali trabalhei menos de um mes, ou um pouco mais, e ele, meu tio arrumou em uma metalúrgica ali bem perto  de casa, onde trabalhei quase dez anos. mais bastou seis meses e eu já tinha ganhado alguns centímetros  importante, que me levou a 1,75 de altura, pesava 68 kg já tinha um pouco de força pra trabalhar no pesado, e trabalhava. Mais teve uma pessoa que eu não posso esquecer de falar aqui. Meu primo( zeze ) José que me ajudou muito a tirá ,documentos saia comigo pra levar nos lugares, por tanto me ajudou muito, agente ia no cinema, fomos até no Pacaembu assistir um Santos com Pele e Palmeiras foi muito bom, esse meu primo fez o que eu nunca tinha visto um primo fazer. Vamos lá eu trabalhando na fabrica de molas, ia muito bem até que me acidentei, um acidente muito grave quase arrancou minha mão direita. Esse acidente me causou sérios  problemas, mais me deixou muito mais forte e preparado para ser o que eu sou. Pião de fabrica. Dali pra frente eu parei de ser bebe chorão, e passei a vencer, vencer arranjei uma ótima profissão, casei, voltei a escola, fiz SENAI, construí minha casa, cuidei de minha mãe e irmãos pequenos, com muita honestidade e trabalho. Perdi o contato com muitas pessoas, o que eu lamento, por quer o que eu queria mesmo era que todas as pessoas que fez parte da minha história continuasse presentes, que eu soubesse onde encontra-las, mais isso é  impossível. A vida da gente é como um filme de cinema, agente encontra umas pessoas já no fim da sua jornada, as pessoas também vão encontra a gente também no fim da nossa jornada. Fico pensando nas pessoas que viveram a cem duzentos anos atras, quando não tinha no mundo, luz elétrica,  radio, televisão carros, avião acho que as pessoas eram muito felizes também, mais daqueles tempos década de sessenta restou meu grande amigo o Fabio, amigo de verdade pra o que desse e viesse. Era pau pra toda obra, chegamos a ser presos juntos,  nuca ficamos parados ele marceneiro e eu soldador elétrico, esse meu amigo era assim quem quisesse, falar comigo era só procurá ele que me achava, mais envelheceu e ficou chato, emburrado hoje passo meses sem ver ele, a ultima façanha  dele comigo foi a uns vinte anos atras, eu estava dormindo, acordei com ele me chamando, levantei pra ver o que estava acontecendo ele estava de pé no meu portão com um patim de boi fresquinho nas mãos pra me dar e me deu,  o que é isso Fabio? ele é seu, é seu, ele falou fui em Ferraz de Vasconcelo, um fulano lá matou um boi e ele rematou as partes melhor do boi e saiu distribuindo pra os amigos. Amanheceu o dia eu peguei a carne e levei na casa dele ele tava desmaiado chamei a mulher dele e entreguei a carne. Essa foi a ultima cachaça espetacular dele. Ele é negro alias meus melhores amigos foram negros. Uma vez um conhecido nosso veio oferecer maconha pra nois bêbados, fizemos o cara jogar a maconha no mato, nois: joga no mato , joga no mato se você quiser subir mais nois, o cara jogou, ou pelo menos agente acreditou que ele jogou. Eramos muito bons. Somos muito bons.


Texto escrito por:
Euflavio Gois em 2013. em São Paulo.

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