quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

 Estradas Reais, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32.


          Naquele dia 5 de Novembro de 1961, Uma hora da tarde estava marcada a nossa saída para São Paulo, o dia amanheceu como qualquer outro dia, só que  nós os que iam viajar não era um dia como os outros, envolvia muitos motivos, muita boa  sorte e muita, muita fé. O meu coração ha mais de uma semana  estava aos pulos, a cabeça era só duvida A nave estava parada bem ali na minha frente e um sonho próximo a se realizar, eu me tornaria mais um Nordestino invisível  nas ruas, nas  terras de São Paulo. As pessoas iam chegando lentamente e subindo no caminhão e iam se acomodando nos seus lugares e  compondo a Opera daquela viagem inesquecível, todos com os olhos vermelhos de chorar as despedidas, muitos não iam mais ver os seus entres queridos por um motivo ou por outro, assim como eu não voltei a ver as minhas vizinhas queridas: a Arlete Cunha, a Gildete, e a Idalícia, também não vi mais o Quinda meu bom e velho amigo, o Quinda estava ali perto de nós era a ultima vez que eu estava vendo ele que foi o meu grande  companheiro de tantas travessuras, dai a pouco passou o dono do Mecedes cara chata com o caderninho de passageiro conferindo os nomes dos seu passageiros o meu nome e o nome do meu pai estava lá e ia ser riscado comprovando que agente já tinha chegado.  Me deu uma vontade grande de correr lá em casa pra tornar me despedir do meu povo mais me segurei, vim ser mais um pinhão de macacão, de biqueira de aço, nunca  mais eu fui o mesmo, perdi a minha baianez, sempre tive que reaprender a vida, a fala mudou, mudou o meu jeito de ser, mudou o meu andar, eu tentava  a muito custo ser mais um protagonista da vida  real. O meu coração estava há mil, a emoção tomou conta da minha pessoa, o povo passageiros  iam arrumando os seus quase nada num cantinho bem escolhido da carroceria do caminhão, eu procurei um lugarzinho na lona da cobertura do caminhão e pendurei minha sacolinha de farofa pra viagem, farofinha que eu iria perder dois dias depois, no estado de Minas, o caminhão ainda  continuava ali, estava parado no lugar combinado: Parado na praça principal da cidade. Eu fui um dos primeiro a chegar, com medo do caminhão ir embora sem mim.


                                                                                                                                       pg.26.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estradas Reais. 

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         Saímos umas três horas eu acho! Naquele dia fui na beira do Rio umas dez vezes me despedir das aguas, das pedras, me despedir e chorar, chorei muito, as minha aguas se misturavam com as aguas doce do Almada, acho que estão misturadas  até hoje. Eu era um pouco mais que uma criança, tinha largado a infância há poucos dias, nem o corpo, nem a mente estavam preparados para tão grande mudanças e eu estava ali na beira do meu Rio para me despedir de novo, olhava para todos os lados, todos os pássaros, todas as arvores, todas as pedras dai chorava, pegava um punhado de agua e bebia, olhava as mulheres que lavavam roupas e chorava não ia mais ver-las, tirava a roupa e de calção pulava dentro do Rio mergulhava para beber a agua do fundo e acariciar o fundo, a terra do fundo do Rio dai chorava muito. Tive que ser muito forte para não desistir da viagem, sabia que podia ser a ultima vez que fazia isso. Eu não estava pronto pra ser grande, não estava. Lembrei de olhar para o lado da casa de seu Pedro Procópio e fui lá me despedir dele, seu Pedro me viu crescer, ele me desejou uma boa sorte. Eu gostava muito de andar nas suas terras, tinha uma cacimba onde agente pegava agua para beber, nem precisava pedir, o Sr Pedro Procópio era uma pessoa muito do bem, ele tinha uma manga onde nóis soltava nossos animais  para pernoitar, ele cobrava uma taxa,  suas terras era banhada pelo nosso Almada, ele era um homem de sorte por isso. É não teve jeito deu duas e meia o homem ligou o caminhão e deu a partida dai ficou tudo pra traz, viramos viajante dai cortamos quase dois mil Kilométros de Estradas Reais, atravessamos três estados até chegar São Paulo.                                                                          Muitas estradas de terra no nosso caminho, passamos o estado de Minha Gerais de ponta a ponta, eu e meus companheiros vinhemos agasalhados no fundo do caminhão, em cima de umas bagagem, fazendo planos pra quando estivesse empregados. A década de 50 tinha acabado de acaba.  A década de 60 estava se iniciando, traria muitas mudanças para nossa vida e as vidas de todo o Planeta. A musica, a moda, os costumes, uma verdadeira Revolução cultural e tecnológica. 




--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Estradas Reais. 


 

          Sou da geração dos anos 40, nós junto com as gerações dos anos 50 e 60 somos as grandes gerações do mundo, é mais já estamos indo embora. Essas gerações tomavam a bença dos avos, dos pais, dos tios e padrinhos. estamos deixando, para os nossos sucessores o ferro elétrico de passar roupas, o fogão a gás, o radio para ouvir musicas e noticias o celular, a internet. cantamos as melhores musicas, podemos comprar os nossos carros, o chamado carros populares, mais o meu sonho maior era ter uma bicicleta novinha. Eu sabia que nunca mais ia ver o grande pé de Tamboril, fincado bem em frente a nossa casa, a casa que eu cresci, com seus milhões de olhos a nos observar não ia! quantas coisas passavam pela minha cabeça naquela hora? acabavam ali as viagens para o ouro as quinta feiras, os olhares das meninas, já começava a dançar bailinhos e outras coisas de rapaz, como foi difícil. O meu irmão mais velho não estava em casa pra eu me despedir, não sei onde ele estava. E tinha um pouco de empolgação, muito medo e muita pena da deixar a minha vida, esquecer num sabe? apesar das dificuldades eu era muito feliz por ali: meu Rio, a barragem, as viagens pra o ouro, a serra de João Vital nosso caminho para chegar ao ouro, meu pesão de Jequitibá imenso, ficaria tudo e ficou. Meu amigo de todas as horas, Quinda onde andarar? Olhei muito para a Igreja, para o Rio correndo em correnteza, pensava eu sou essas aguas que desce. o meu espirito de aventureiro não falava nada, estendia meus olhos, para as montanhas que cercam a cidade,  parava os olhos em algum ponto mais conhecido da montanha e chorava. Eu pensava eu vou ser feliz! vou ser! Procurei ver e rever tudo que tinha me cercado até ali, todas as arvores, o meu pé de jambo, meu pé de carambola me perguntava  mais qual seria o meu futuro ali? o meu irmão me apagava,  ofuscava o meu pouco brilho. O Rio  estava coberto por agua-pé, e sem o George Canoeiro? o que eu ia fazer? a situação da minha família era muito ruim, o meu pai estava desorientado, quebrado os negócios dele na feira tinha quebrado, eu não tinha saída estava chegando os meus 18 anos e agora? Eu não podia andar em uma ''mula bem arreada'' eu não tinha. 



---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Estradas Reais. 


 

           Cai no mundo sem documento sem lenço vim parar em Guarulhos SP. Aonde comecei  organizar minha vida com ajuda de meu Tio. Eu vim com o coração partido como já disse. Não me despedir das minhas professoras, para me dizer: Euflavio estuda e boa sorte, nunca pare de estudar. Mais de um ano eu passava nos lugares conhecidos e pensava acho que nunca mais volto a passar por aqui, me tornei um rapaz triste, sem graça, não tive adolescência sem paixão, praticamente um zumbi.  Assim vivi em São Paulo, assim vivo, assim amanheci no dia 11 de novembro de 1961 sem os meus amigos, sem meus irmãos, sem a minha mãe com 18 anos de idade,  a noite o céu não tinha estrelas pra mim ver, pra mim conversar, cadê as três Marias, cadê os três Rei Magros, cadê o Cruzeiro do Sul? Me admirava esse céu pintado de cinza. Pensava muito na minha mãe, como ia viver sem mim por perto naquela vida nove sem meu pai também, O Regis era um repressor vivia brigando com ela, minha mãe sempre gostou de fazer uma fezinha no bicho, fazia escondido  dele. aEm casa todos tinha medo do Regis menos eu mais nunca procurei desagradar, ele e nem ele eu, cada um pra seu lado. Na minha Bahia  Estrelas conversavam comigo, me admirava os homens nos seus cavalos bem arreados, os vaqueiros tocando seus bois. Eram rei naquele lugar e eu era um fazedor de histórias, mais não podia mais ficar ali. Sei que não foi fácil minha mãe me ver sair pela aquela porta, não foi. Eu ouvia noticias dos grandes lugares pelo radio me brilhavam os olhos. Como eu estava dizendo em São Paulo sozinho sem amigos, sem mãe, sem meus irmãos e sem fé. Agora. correr pra tirar documentos, me alistar no Exercito e correr pra arranjar emprego, encontrei um anjo aqui que me ajudo, o meu primo José de Gois já falecido foi o meu protetor. Com pouco tempo eu estava trabalhando, e mandando um dinheirinho pra minha mãe, que era uma benção quando esse dinheiro chegava. Eu adorava as ruas da minha cidade, o nosso jardim, com os bancos, as arvores, em tempo de festas e nos domingos era muito bom os rapazes e as moças iam passear, os rapazes ficavam em grupos. Dali as vezes saia um namoro, e até um casamento.



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Revista.

 

         Eu ainda não era rapaz, era do time dos meninos, He! preferia me trancar na sala do cinema. Não sabia namorar, não sabia. Do meu cine Coaraci que esta em pé até hoje, depois virou igreja Universal do Reino de Deus, fechou e esta fechado até hoje. Eu que amava o cinema, com o tempo passei a gostar de outras coisas, a musica, o esporte dai fui me afastando do cinema, ou o cinema foram se apagando, as pessoas passaram a ver televisão que era a novidade da época, tinha muitos bares por aqui e em cada bar uma televisão. Os homens saiam do trabalho e já tinham cada um um bar para assistir televisão Adeus cinema! dos últimos filmes que assistir no cinema ''Sete Homens e um Destino'' ''Assim Caminha a Humanidade''  ''55 Dias em Pequim'' meus últimos filmes em cinema. Dois anos depois de chegar em São Paulo eu ja me encontrava vivendo como um da daqui, já bebendo cachaça, fumando e carregando um maço de cigarros no bolço. Sempre me vinha uma pergunta em mente: E se eu ainda estivesse lá? e não tinha resposta. Nos anos sessenta eu seria corrompido The Beatles e sua musica maravilhoso, seu cabelos, sua alegria, foram anos de muitas mudanças, também no Brasil a nossa MPB, com Chico, Caetano Betânia, Gal e a Nara Leão sagrados, sagrados anos sessenta  com sua força nas Artes, Tom Jobim e Vinícios de Moraes, a caneta Parker 51 e a velha maquina de escrever de George Amado, Graciliano Ramos, Carlos Drumond de Andrade não parava o trac, trac trac da maquina de escrever. Eu na minha fabrica de molas de carros, na frente de um forno e uma bigorna era um leão, era como um Leão. Saia de casa as cinco da manhã  e só. voltava as oito nove da noite. Me divertia ouvindo musica as melhores musicas dos fins dos anos sessenta, depois setenta, e oitenta. Anos oitenta tivemos uma boa safra de musicas Italianas que durou quase dez anos, eram musicas românticas. Foi uma delicia viver aqueles anos. Em Coaraci eu fui um Rei por dez anos. Deixei parte da minha rua chorando, deixei a minha rua vazia. Eu era visto em vários lugares ao mesmo tempo, no campo de futbool, no parque de diversões, no Circo e no Cinema.



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           Mais tinha outros lazeres, como pescar e matar passarinhos, casar passarinhos só que nunca acertei em um, passarinho. Um dia em 1958 numa madrugada fomos acordados com grade movimento nas ruas próximo ao Rio, foi uma grande enchente do Rio, o Nosso Almada  transbordou, as ruas próximas ao Rio foram invadidas, nessa época o Brasil tinha ganhado o primeiro  campeonato mundial e Coarací teve a honra de receber um campeão do mundo, o Didi Folha seca, como ficou conhecido. Didi causou grande admiração para o povo da cidade e mais para os meninos ao se envolver e ajudar os povos a salvar os seu moveis, foi visto carregando pertences de casas inúdadas na cabeça. Didi não foi lá atoa, ele era casado com uma moça da nossa cidade. Foi uma grande alegria para todos da pequena cidade de Coaraci, Didi ia a todas as festas e festinhas da cidade, era entrevistado por todo, perguntas de todos os tipos. Lembro que alguém lhe perguntou qual o jogo mais difícil que ele encontrou? ele respondeu sem pestanejar: Pais de Gales. Ele disse. Mais o que mais me emocionava mesmo era as chegadas dos Circos, os circos causavam verdadeiras revolução nas nossas cabeças, principalmente o Circo Nerino, andou por lá duas vezes  com grande sucesso, com seus espetáculos em duas partes e o Palhaço Picolino, sua maior atração. E soube que picolino morreu faz pouco tempo, acho que em 2016 com 96 anos de idade. Tudo isso e muito mais foi a minha infância, uma infância espetaculosa graças a Deus. Eu me sentia um Rei nas ruas de Coaraci. Faz pouco tempo que estive lá revi tudo e nada estava no seu lugar, o campo agora era um estádio, o lugar onde era armado os circos e parques não dava mais pra armar nada, arvores e pés de cacau tinham crescidos no local. Deu vontade de chorar, fiquei vários minuto ali próximo a observar, conclui que não foi bom ter ido lá. Por  varias vezes passei na rua beirando o Rio, o meu Rio  e sozinho chorava, minhas professoras tinham morrido todas, só a professora  Carmem Dias estava viva mais não me reconheceu, muitos dos amigos de infância ainda estavam por ali, para mim a cidade era outra, não era mais minha cidade.



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Revista. 

         Ninguém me reconheceu os que e nasceram depois que fui embora já estavam todos velhos, poucos jovens, poucos meninos. Encontrei uma cidade nova, uma cidade que eu era um estranho total. Fui ver a minha casa onde eu morei e fui feliz essa estava do mesmo jeito, pena que eu não pude entrar, tinha moradores e eu não pude me apresentar. para uma boa conversa e depois tomar um cafezinho com eles. A minha Coaraci não é mais minha cidade. O comercio nervoso  com um entra e sai de tropas carregadas de cacau não tem mais, os homens não exibem mais seus burrões e mulas esquipadeiras e seus Manga Largas Machadres. Eu que em Coaraci era visto em vários locais ao mesmo tempo, eu tinha brilho próprio, era como vaga-lume, em São Paulo eu me. tornaria invisível. Em São Paulo todos nordestinos era baiano naquela época. Mesmo  assim ''aqui eu era um Rei e meu Cavalo só falava Inglés.''









                                                                                                                                                  



 

   



                                                                                                                                        Pg.32..

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