quarta-feira, 22 de novembro de 2017

ANO 1949

Final da década do 40 Coaraci era município de Ilhéus, era um dos ricos municípios de Ilhéus.´
Os fazendeiros eram homens muito rudes, que tinham vindo a maioria de Sergipe, Alagoas, menos de Pernambuco e Ceara por ser mais longe. Eram homens provavelmente que tinham chegado nas décadas de 20 e 30, se embrenhado nas matas, abrido caminhos e abrindo as matas para prantarem os primeiros pés de cacau. Muitos desses homens vinha fugidos da seca, do cangaço, da policia, de alguns fenômenos causado pela saída do Brasil do regime do imperial e que acabara de entra numa ''Republica nessa mesma época, o Brasil estava em guerra contra o Conselheiro e seus seguidores na chamada ''Guerra dos Canudos'' Quase no mesmo ano avançava sertão a dentro a famigerada Coluna Preste fazendo suas vitimas.Vou falar aqui especificamente de João Vital um ídolo para mim, com os meus ídolos do cinema,  tomava conta da minha imaginação.
Certa vez eu tive a alegria de ver-lo pessoalmente, fique admirado com aquela figura sóbria, já bem velho, mas muito imponente calçado com um chinelo de couro cru, uma barba tingida de branco prateado, bigode farto, fiquei muito impressionado, ele estava na casa do seu filho Girú, homem muito respeitado por todos da cidade de Coaraci, agora emancipada. quando vou na Bahia faço questão de passar na quela casa que continua lá do mesmo jeitinho cheia de história, nas suas dependências.
Coaraci para mim era com uma cidade do Faroeste Americano, com boiadas , cavalhadas circulando por dentro, nas ruas empoeiradas da cidade, seus personagem magníficos, suas figuras fooclóricas da hora. Eu um menino deslubrado  com a vida que se apresentava pra mim nua, pra mim viver, eu queria esta sempre ali com meu povo, com meus bichos no mato , com meus passarinhos cantando. Meus heróis estavam todos ali, para mim ver. O rio com suas águas correntes, uma alegria viver, ver as grandes tropas de burros gazos, carregados de cacau entrando e saindo o dia todo, os tropeiros rudes, com sua tropa na mão.  A história estava sendo escrita.
Para nos só restava esperar o dia amanhecer todos os dias para brincar correr e nadar, com tudo eu tinha muito medo dos afogados que eu vi, que eu vi ser tirados do fundo do Almada, aquilo é muito assustador para mim, eram pessoa conhecidas que numa fatalidade se afogavam.
Lembro dos crimes, das festas da Igreja, dos Micaretas da Cidade, das festas de São João, São Cosme e Damião. Em frente a minha casa lá na Bahia tem um alto, chamado alto da velha Maria onde tinha um grande pé de tamboril, arvore sentenária, a Velha Maria uma fazendeira do seculo 19 tinha sido muito rica, tinha enterrado muito dinheiro, patacões de prata do tempo dos reis. As botijas de dinheiro de Dona Maria foram dadas pra mutos homens conhecidos de Coaraci e região. Falavam que meu pai tinha sido um feliz ganhador do dinheiro de Dona Maria.
João Peruna um dos mais famosos pioneiros de Coaraci, home que doou o terreno do cemitério de Coaraci também enterrou dinheiro. João Peruna foi um dos primeiros prantador de cacau da região de Coaraci, isso é avaliado pelo porte gigante dos seus pés de cacaus. São cacaueiros muito fortes e grossos. Peruna era um homem muito agitado, na fronteira da locura, tinha um irmão também muito nervoso, Uma vez João Peruna foi levar o irmão em Ilhéus pra uma consulta num certo psiquiatra da época, chegando lá medico perguntou: Quem é o paciente? diante dos dois, tal era a agitação que se apresentava ali naquela hora entre os dois homens. João Peruna eu conheci já no fim da vida, mas tinha outros fazendeiros forte por lá homens muito rudes que chegara na quelas pragas no começo do seculo. Tomé Grande um mulato muito forte que nunca causou sapatos, adorava anéis, tinha os cinco dedos das mãos cheio de anéis de ouro, andava com os pés rachados, também não gostava de montaria, eu nunca vi ele montado, tinha umas fazendas na região, era muito admirado por todos , por seu tipo quase selvagem e pelos anéis que trazia nos dedos. Acredito que esse tinha muitos potes de dinheiro enterrado. Coaraci era um verdadeiro seleiro de gente assim com muita histórias que não foi contada. Essas pessoas todos analfabetas, quando aparecia um dele letrado era, servia de grande admiração. Como dona Josefa charuteira que sabia ler, lia muito bem era uma pessoa de uma educação exemplar,  tinha uma família muito linda, pessoas de cor negra muito pobres, muito nobres também, falava baixo, lia muito, faziam charutos, eu gostava muito de ir na casa dela brincava com os seus filhos.
Sr Dantas era um fazendeiro, homem de fino trato vivia afastado da cidade cuidando de suas fazendas, muito educado, tratava as pessoas pobres com delicadeza o que não era comum naqueles tempos de brutalidade, devia ter uma coração muito bom, tinha um monte de filhos, os filhos estudavam na cidade. Uma curiosidade daquele tempo,  ''uma boa carteira de couro''  o homem era muito respeitado se tivesse uma bonita carteira recheiada,  um chapéu Ramezoni pra por no cabeça e pronto, era abridores de portas. Também uma capa de chuva trés coqueiro é claro um bom relogio de bolso. Omega Ferradura, uma bota sanfona. Na Bahia era assim. Para os pobres regime de escravidão ou seme-escravidão. Comer poeira no sertão,  beber Água barrenta e tomar banho de cuia, a comida os restos de feira, os meninos barrigudos cheios de vermes, sobrevivia de briza, se entrasse mais pra dentro do sertão era pior. Os fazendeiros não tinha pena dos seus trabalhadores. Vaqueiros colhedores de cacau, limpadores de roça trabalhavam sem proteção nenhuma, tinha um sidicato de trabalhadores  Rurais  que fiscalizava, para os abusos não serem maiores.
A vida muito difícil fazia os filhos criarem asas e voarem, vinham para o Rio, Salvador e São Paulo, esses jovens voltavam pouco tempo depois exibindo boas roupas, um óculo vistoso e um bom radio de pilha, com isso atraia outros e outros para a mesma aventura na cidade grande.
Em 1949 Coaraci era um pequeno município de Ilhéus, com uma população de talvez uns 6 a 8 mil habitantes, um comercio bom, tinha todas as nesscidades do povo, pouco trabalho na cidade, um pouco de trabalho para quem era pedreiro ou capinteiro, os sapatos furados eram disputados por muitos  sapateiros que tinha por lá que eu não vou citar os nomes, não sei se devo: Há vou citar os que eu me lembro só pra registra nessa história. Manoel Pecadão, sapateiro de salto Luiz XV, Valdomiro, Zélito, trabalhei de aprendiz com ele, tomava conta de uma banca de calçados na feira pra o Zélito, o meu ultimo trabalho lá em Coaraci, ia me esquecendo de  Mestre  Hilário sapateiro, os marceneiro eram Rock gago. Juquinha, Ludgerio Preto, os principais eram esses, tinha e ainda tem os farinheiros, os fateiros, os açougueiros, oh povo que come carne! Na rua do Campo tinhas as ''Mulheres Damas" que trabalhavam dia e noite sem parar. Rochinha era a dona de bordel mais célebre,  nas ruas soltos vários vendedores de quibe, mingau de milhos , arroz doce, no campo de fo-fotebool, vendedores de rolete de cana, refresco de tudo, ate de gengibre, muitas brigas de rua era uma festa a vida daqueles tempos, as segundas s feiras eramos despertados com os galos cantando nos quintais de todas casas.
Pomada  era um negro velho vindo do tempo do cativeiro,  filho de escravos, ''nascido depois da lei do ventre livre '' era o pai de Rei Zulu um negro com ares de nobreza que vivia pelas ruas de Coaraci enriquecendo a sua paisagem negro enorme, calado sempre.
Esse Brasil que eu estou falando era um sem bandidagem, blindado, não se falava em drogas, orgulho de ter vivido aqueles tempos e esses também para poder contar essa história,
Eram uns tempos muitos difficiles nos eramos muitas bocas nervosas, só pensávamos em comer, no lugar não havia empregos, lugar cheio de homens encostados, na cabeceira da ponte em rodas de conversas intermináveis, nunca compreendi essa forma de viver, aqueles homens picando fumo para fazer cigarro de fumo de rolo, as vezes enrolado com palha de milho para espantar os jatiuns, pernilongos e cobras. Era lindo de ver as roças de cacau carregadas os frutos amadurecendo nos pés.
Os donos, fazendeiros mãos calejadas, facões de 20 afiados para entrar em ação.
                                 
Lá de traz da quela casa
tem um pé de mandaca,
nós vamos casar, nós vamos casar.

Lá no Terto uma grande fazendo de cacau estaria batendo todas as safras anteriores, alguns milhares de arroba seria colhida para para exportação, as tropas de burros e mulas estavam desconssando no pasto de capim para enfrentar a colheta e transportar para a rua, os ferreiros estavam preparando as ferraduras para eles.
Gude DE Giru neto de João Vital preparava os arreios da tropa, esse anos vai ter muito trabalho, tinha chovido bem, o trabalho ia ser muito duro, ia ter que aumentar o plantel de mulas e burros.

Meu pai soltava a voz subindo
a serra: Entre as mulheres que eu
conheco,
Tem uma que não esqueço,
quero esquece-la me esforço.
O nome del eu não digo,
não quero ter inimigo,
não quero ter inimigo,
não quero sentir remorço.

Não querendo cometer um desatino
vou partir sem ter destino, d
É nesse samba que eu digo
tudo que sinto, eu juro por Deus
eu não minto. Eu gosto da quela mulher.

E tome estrada e tome viagem e tome vontade de chegar. Os nossos animais fracos e cansados do já com a idade avançada, a viajem longa, peso da carga, ainda faltava umas duas horas pra chegar.
Os nossos animais tinam os seus nomes preservados decorado por  nos. eles eram também amados por serem os nossos colaboradores Paquinha, Ouro Preto e boneca eram os protagonistas da nossa tropa. Deus há de ter colocado eles em um paraizo, com pastos muito verdes para eles. Um dia espero ainda poder encontra-los,  eu acredito nisso, embora não me lembro bem o que foram feito deles, sim o que será que foram feito dos três? os três pareciam um. Não tenho ninguém para me responder essa pergunta. eu amava meus bichinhos. Boneca era uma mulinha de porte pequeno, muito docíl, agente brincava de passar por baixo da barriga dela era marron escuro. o ouro preto era pequeno quase preto. muito bom de carga, já a paquinha era bem agitada, não aceitava ninguém montando nela, era uma fera, era valente um temperamento muito forte nos nossos cminho tinha algumas ladeiras. Tempos muito marcante a minha  vida, foi um dos momentos mais importante nas nossas vidas, na minha então foi essencial, me tornei um forte a ponto de nunca ter medo de enfrentar a vida  como ele é.
Um dia numa uma daquelas passagens por aquele lugar da serra de João Vital passagem obrigatória nossa e de todos os viajantes com tropa eu vi um pé de laranja carregado pensei! vou pegar umas laranjas para levar pra casa e fui, subir no pé de laranja eu era a ainda subo em arvore até hoje  era bem alto, quando já tinha alcançado alguma laranjas me deparei com uma Jitirana verde, foi um susto terrivel, existe uma lenda que a Jitirana é uma cobra cego que vivem nas matas fechadas e que é terrivelmente venenosa, elas tem asas e voam, tem uma especie de ferrão no nariz, como elas são cegas, elas são esbarradas por arvores onde elas se chocam e ficam espetadas até morrer, eu desci da laranjeira a mil, rezando que nem católico. Meu Deus esqueci de pegar as laranjas que já tinha tirado.
Aquilo me pareceu que eu tinha me salvado por milagre. Credo...


CONTINUAÇÃO:

E assim com uma aventura atras da outra os anos iam passando lentamente, por que quando se é menino as horas não passa, os dias não passam, é assim que passam é assim que passam   passam os primeiros anos das nossas vidas. Juntamente com tudo isso vieram a  matricula na primeira escola, os primeiros contactos com os números e letras, professoras e outros meninos, em fim até  com Papai Noel, com as festas, iam ficando claras as fisionomias das pessoas, agente ia conhecendo os parentes, os avos, os tios, os vizinhos, em fim as professoras, é a fase mais importante das nossas vidas.
Entramos em contacto com o que é de sorrir e o que é de chorar, saber a diferença das cores, sabores, frio e calor e dor. Os dias são muito importante no começo da nossa vida, meninas, os meninos, a importância de você criar um animalzinho na fase  da sua infância. É a sua humanização.






REVISTA Menino Rei.

Eu gostei tanto,
tanto quando me contaram.
Que lhe encontraram bebendo
e jogando na mesa de um bar.

E que quando os amigos do peito
por ti perguntaram, um soluço
cortou minha voz, não me deixou falar...

Pintinho. gatinho, cachorrinho, tartarugas são bichinhos que os pais devem entregar a responsabilidade para as crianças, é muito saudável eu acho.
Não tinha a televisão para atrapalhar, não as falsas leis de proteção das famílias. as crianças cresciam com o que tinham em família, com os excessos  de amor, ou de indiferênça, Não tenho nada para reclamar. Os pais geralmente analfabetos não tinha muito que saber como criar os seus filhos, os criavam como tinham sido criados e pronto.


               REVISTA Menino Rei.

pERDA DE MAIS PARA UM CORAÇÃO PARTIDO.


Em 1949 foi quando começou tudo, a viagem para Bahia, uma verdadeira aventura para o diferente, o desconhecido, eu era muito pequeno, tinha acabado de perder três irmãs, morreram de sarampo na véspera da viagem, minha mãe estava sofrendo muito a perda, teve também que trocar o certo em troca do incerto, para seguir os passos do marido meu pai, que não ligava muito pra nos.
Minha mãe tinha um bom emprego numa fabrica de tecido, largou tudo, emprego, familiares, colegas de serviço e amigos de infânçia, adeus tudo!
Coaraci não era ainda uma cidade, pertencia a Ilhéus, era Ilhéus, chovia muito por lá, uma população mista, muitas pessoas que vieram de longe, muita gente de Santo Antonio de Jesus, Santo Amaro da Purificação e de outros lugares, a população coaraciense era muito pequena e jovens ainda.
Os filhos dos pioneiros estavam crescendo naquela terra  desbravadas, com suas matas abertas para o plantio do cacau,  chovia muito, mata Atlântica pura, madeira de primeira a ser derrubadas, muito jacarandá foram abaixo,  precisava preparar as primeiras mudas de cacau,
A lei era a do facão Corneta. Aqueles homens vindo do Sertão, de onde vieram corridos dos rigores da Republica recém implantado e dos Cangaços diversos e suas crueldades em busca da riqueza, de  justiça.  Com uma roupa no corpo enfrentaram dias e dias nas estradas de tropeiros, muitos vieram de carona, pra aquelas terras  abriram picadas nas matas ricas do Sul da Bahia, conheci alguns. desses sertanejos que até então  nunca tinham visto tanta chuva, meu pai foi um desses. Embrenhou-se nas matas do sul ainda rapazinho, aprendeu a profissão de carpinteiro, foi agregado dos tios que tinham chegado antes e abandonou o seu sobre nome de ''Macedo Lima'' pelo Oliveira Lima do Tio Américo. Isso ele falava pra gente quando estava de bom humor, o fato é que deixamos de ser Sergipanos para adotarmos como sendo a nossa terra a boa e querida Bahia, me desculpe Sergipe. Nunca mais voltei lá para ver como é, tenho os parentes ainda por lá.
Chegamos na Bahia no começo de 1949 para mim o amor a primeira vista, me apaixonei logo de cara pelo Rio Almada, esse rio levaria o meu bico, aquele que agente chupa quando criança, me tirou a inossençia, quando eu percebi que já estava grandinho para tomar banho nu, levou alguns pingos de lagrima para o mar, ou ''Lagoa Encantada'' Ilhéus. lavou muitas vezes a minha alma, saboreei muitas vezes os seus peixinhos fritinhos, fez muita diferença nas nossas vidas.
Briguei muito ao ver-lo quase morto da ultima vez que estive lá em Coaraci. foi o que eu vi. Oh rio Almada eterno seras. Farei de tudo para voltar sempre naqueles lugares, a onde eu tive os melhores momentos da minha infância inquieta.
Aos sábado a feira fervilhava, era a festa semanal, vinham gente de toda parte, também era o nosso local de trabalho, vinham cantadores de repente, repentistas, vinham com a família cantar e encantar pedindo esmola,  na verdade eram cantadores do Sertão,chorano eu vou ver mamãe eu vou ver... Sol quente na cabeça barriga quereno comer.
Como disse o Caetano Veloso de perto ninguém é perfeito.
 eu sempre tive as minhas imperfeições sempre ressaltadas, eu era briguento, errava mais do que acertava, curioso, astuto.
Sempre procurei ser respeitado pelos moleques da minha epóca e era.



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domingo, 5 de novembro de 2017

''SEMENTE DO AMANHÃ''

        REVISTA Meino Rei. 

O FALCÃO.

Caminho sobre ovos,
Sobre a arte, sobre as nuvens.
No sertão sou o Sol puro sem dó.
Sou sertanejo valente,
Sapateio em serpentes.
Os Gaviões Carcarás,
As Ariranhas azuis Onças pintadas,
As pardas meus bichos de estimação.
Sou Cavalo . Bicho cão.

Tou cansado de ser gente.
Estou cansado...
Tenho que tocar a vida e dançar
Mulé rendeira dos cabras de Lampião.
Falar minha própria língua,
Cantar o meu próprio hino,
vou cantar...

Eu sinto as horas passar.
Tó no fio da navalha,
Andando na corda bamba,
na contagem regressiva 
vou morrer...
Não sei dançar essa musica...
Não tenho tempo pra
um passo de cada vez.
vou dar dez.
Tou cansado de ser gente.
Fazer seda, fazer mel,
eu vou beijar as flores, avoar...
Ser Águia, ser Falcão.
Quero florestas desertas,
Rios de agua limpas pra
nadar, eu quero a paz.

             FIM

Autor: Euflavio Gois
SP 2017.


                         



                                                                                                                                                pg.83.
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